Olá pessoal, estou iniciando uma nova proposta no nosso blog, estarei postando para vocês alguns textos relacionados à Educação Matemática, e para começar segue esse pequeno texto sobre a utilização de jogos no ensino da Matemática, uma boa leitura!!!
Jogos no ensino da Matemática
Muitas vezes pensamos que a melhor forma de contribuir para analisar e transformar o processo de ensino e aprendizagem seria descobrir uma fórmula que acabasse com o desinteresse, a falta de concentração, a indisciplina e as dificuldades de aprendizagem. No entanto, o que tem sido mais significativo, nos últimos anos, não é encontrar fórmulas precisas, porque não existem, nem ficar defendendo projetos com mudanças radicais, geralmente de difícil concretização.
Se é difícil modificar o todo, há muito o que fazer em cada parte: o desafio é atuar com criatividade e responsabilidade, saindo do discurso queixoso e paralisado, descobrindo formas mais interessantes de lidar com a realidade. Se não há variedade de material, vamos inventar diferentes situações com lápis e papel ou lousa e giz como recursos; se o currículo é pré-determinado, vamos buscar caminhos que desafiem os alunos a vivenciar situações que tratem de conteúdos essenciais à aprendizagem. Esses, em geral, têm efeito multiplicador, o que poderá garantir a autonomia de pensamento e fornecer condições suficientes para o aluno interpretar um texto ou fazer uma conta. Se um dia ele aprendeu a aprender, esta atitude torna-se uma “propriedade” que ninguém pode tirar dele, tem efeito irreversível.
O jogo no contexto pedagógico
O jogo é uma atividade em que o elemento considerado mais importante é o envolvimento do indivíduo que brinca, e não algum produto valorizado extrinsecamente.
Para Piaget, por meio de uma atividade lúdica, a criança assimila ou interpreta a realidade a si própria, atribuindo, então, ao jogo um valor educacional muito grande. Nesse sentido, propõe-se que a escola possibilite um instrumento à escola para que, por meio de jogos, ela assimile as realidades intelectuais, a fim de que estas mesmas realidades não permaneçam exteriores à sua inteligência.
Uma área de ensino que tem voltado à questão do jogo é a matemática. No entanto, ainda é comum a ênfase nos materiais concretos e no material estruturado como recursos didáticos.
Aos poucos, porém, foi se tomando consciência de que ensinar matemática envolve variáveis que transcendem ao simples ato de transmitir conhecimentos. Deve-se esta conscientização aos teóricos como Piaget, Brun er, Dienes, Vigotsky, que contribuíram para uma perspectiva nova do trabalho pedagógico, lançando bases teóricas para uma nova visão de escola e particularmente do jogo, como um possível elemento pedagógico.
Segundo Moura (1990), a perspectiva do jogo na educação matemática não significa ser a “matemática transmitida de brincadeira”, mas a “brincadeira que evolui até o conteúdo sistematizado”.
Para Piaget, os jogos podem ser estruturados, basicamente, segundo três formas de assimilação: exercício, símbolo e regra.
Nos jogos de exercício, a forma de assimilação é funcional ou repetitiva tendo por consequência, para o desenvolvimento da criança, a formação de hábitos.
Os jogos simbólicos vêm depois dos jogos de exercício, caracterizam-se pelo seu valor analógico. Trata-se de repetir como conteúdo, o que a criança assimilou em seus jogos de exercício ou aplicar como forma de conteúdo, as formas de esquemas de ação que assimilou em seus jogos de exercício.
Os jogos de regra têm como original e próprio, seu caráter coletivo. Os jogadores sempre dependem um do outro passando-nos uma ideia de assimilação recíproca pelo sentido de coletividade e de regularidade intencionalmente consentida ou buscada. Esses jogos são caracterizados por uma atividade que propõe ao sujeito uma situação-problema (objetivo do jogo), um resultado em função desse objetivo e um conjunto de regras.
Os jogos são instrumentos para exercitar e estimular um agir-pensar com lógica e critério, condições para jogar bem e ter um bom desempenho escolar. Assim, a atividade de jogar, se bem orientada, tem papel importante no desenvolvimento de habilidades de raciocínio, bem como organização, atenção e concentração, tão necessárias para o aprendizado, em especial em Matemática e para resolução de problemas em geral.
O papel do professor
Para um trabalho sistemático com jogos é necessário que os mesmos sejam escolhidos e trabalhados com o intuito de fazer o aluno ultrapassar a fase de mera tentativa e erro, ou jogar pela diversão apenas. Por isso, é essencial a escolha de uma metodologia de trabalho que permita a exploração do potencial dos jogos no desenvolvimento de todas as habilidades (raciocínio lógico e intuitivo), o que pode ser feito por meio da metodologia de resolução de problemas. Neste método, cada hipótese/estratégia formulada, ou seja, cada jogada desencadeia uma série de questionamentos como: Essa é a única jogada possível? Se houver alternativas, qual escolher e porque escolher esta ou aquela? Terminado o problema ou a jogada, quais os erros e porque foram cometidos? Ainda é possível resolver o problema ou vencer o jogo, se forem mudados os dados ou as regras?
No inicio, a tarefa de questionar é do professor, com o tempo é de esperar que os alunos também o façam.
Um aspecto importante para incrementar as discussões sobre as estratégias é o registro das jogadas, tanto as eficientes como as frustradas. Tendo em mãos a história dos lances experimentados, torna-se mais fácil a análise do jogo.
É claro que, quando usamos o jogo na sala de aula, o barulho é inevitável, pois só através de discussões é possível chegar-se a resultados convincentes. É preciso encarar esse barulho de uma forma construtiva, sem ele, dificilmente, há clima ou motivação para o jogo. É importante o hábito do trabalho em grupo, uma vez que o barulho diminui se os alunos estiverem acostumados a se organizar em equipes. Através do diálogo, com trocas de componentes das equipes e, principalmente, enfatizando a importância de opiniões contrárias para descobertas de estratégias vencedoras, conseguimos resultados positivos. Vale ressaltar que o sucesso não é imediato e o professor deve ter paciência para colher os frutos desse trabalho.
O educador continua indispensável, é ele quem cria as situações e arma os dispositivos iniciais capazes de suscitar problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida, contra-exemplos que levem à reflexão e obriguem ao controle das soluções apressadas. Assim, um cuidado metodológico que o professor deve considerar antes de levar os jogos para a sala de aula, é o de estudar cada jogo antes, o que só é possível jogando. Através da exploração e análise de suas jogadas e da reflexão sobre seus erros e acertos é que o professor terá condições de colocar questões que irão auxiliar seus alunos e ter noção das dificuldades que irão encontrar.
O papel do professor é fundamental em sala de aula, é ele quem dá o “tom” do desafio proposto, ele deve ser o líder da situação, saber gerenciar o que acontece, tornando o meio o mais favorável possível, desencadeando reflexões e descobertas. É o professor que tem influência decisiva sobre o desenvolvimento do aluno e suas atitudes vão interferir fortemente na relação que ele irá estabelecer com o conhecimento.
(Hélia Matiko Yano Kodama – Cadernos de formação- São José do Rio Preto/ UNESP)